Videoconferência
Conferencistas: Marcos Bagno e Dante Luckesi
No dia 06 de agosto de 2011, assisti a uma videoconferência, na cidade de Alagoinhas-BA, como atividade complementar do curso “Um Gestar em cada Escola”. Esta videoconferência foi proferida por dois grandes e renomados linguistas e especialistas em educação, onde na oportunidade eles abordaram a respeito do preconceito linguístico.
Segundo Marcos Bagno, primeiro conferencista a fazer uso da palavra, para a Ciência da Linguagem não existe erro na língua. É impossível falar sem seguir regras linguísticas. Isso porque o nosso cérebro não deixa.
Ainda segundo esse especialista quando nós falamos da língua, nós não conseguimos tratá-la como ela é: um objeto científico.
Explanando a respeito das origens da noção de erro, ele explicou que a gramática tradicional é patrimônio do ocidente. Logo em seguida apresentou os detentores da “Língua Modelo”
- Do sexo
- Livres (não-escravos)
- Membros da elite cultural (letrados)
- Cidadãos (eleitores e elegíveis)
- Membros da aristocracia
Segundo ele, a variação linguística sempre foi decidida por toda pessoa. E as exemplificações que os autores dão em suas gramáticas são completamente pessoais. Muitas palavras que Camões usou em “Os Lusíadas” são invenções dele. A língua nunca para de mudar. A língua só para de mudar se eliminar todos os falantes. E não podemos ter essa visão negativa da mudança. O que a gramática normativa diz que é regra é menos usada. Como, por exemplo: Você viu ele?
Sim, eu o vi. (4 vezes)
Sim, eu vi ele. (400 vezes)
É um engano, dizer que a língua boa e a língua correta é aquela falada por meia dúzia de pessoas. No Brasil nós temos uma noção de língua completamente depreciativa. Primeiro o nome da nossa língua é dos portugueses.
Nós temos que conhecer bem esse senso comum de língua, para que nós possamos explorá-la bem com os nossos alunos na escola. Esses preceitos e conceitos da gramática tradicional só começaram a ser discutidos a partir do século XIX. Por isso, essa ideia de que a língua está sendo arruinada e corrompida por aí é mentirosa.
Se nós nos reportamos às palavras que tiveram origem no latim, é possível percebermos que a língua não para de mudar, como por exemplo: tégula – telha – teia – teiado. Assim, podemos concluir que a língua é extremamente variável e essa variação está vinculada ao fator social.
As variedades que são consideradas completamente erradas são consideradas o futuro da língua.
LATIM PORTUGUÊS
Blandu > brando
Clavu > cravo
Flaccu > fraco
Em muitas palavras, o l foi transformado em r. Você transformar o l em r é rotacionismo.
Em orações da voz ativa, o uso da partícula se é considerada errônea, porque a ação praticada pelo sujeito recai sobre si mesmo. Nesta sala se abatem mil galinhas por dia. Então são galinhas suicidas.
Aluga-se salas? Correto
Alugam-se salas? Errado
Uma das tarefas importantíssimas realizadas na escola é discutir a variação social da língua. Nós temos que ter essa visão maleável da língua. O professor que fica ensinando dígrafo, encontro consonantal e muitas regras gramaticais vão colocar o aluno para fora da escola, porque ele está praticando a pressão social por meio da gramática normativa.
Na segunda parte da videoconferância foi a vez do linguista Dante Lucchesi. De acordo com esse especialista, o ensino da Língua Portuguesa se encontra numa encruzilhada. Isso porque antigamente o professor de Língua Portuguesa tinha a autoridade da língua. Ele sabia o que era certo e o que era errado.
Pessoas do senso comum são aquelas que não têm um conhecimento especializado da língua. O professor de Língua Portuguesa enfrenta um problema que é de natureza da mentalidade. As pessoas não escrevem como falam. Nem falam como escrevem. Toda língua estrutural oferece possibilidades de se escrever a mesma coisa de maneiras diferentes. As linguagens artificiais são mais econômicas e mais racionais. Exemplo: Meus colegas já chegou, em vez de: Meus colegas já chegaram.
Para se fazer uma avaliação social, depende do lugar ou da classe social em que você está. Exemplo: O melhor sistema é o escravista, desde que eu não seja escravo. A dominação hoje é muito mais pela hegemonia do convencimento. Refletir sobre a estrutura da língua é o mesmo que discutir a respeito da Física e da Química.
Falar com concordância e sem concordância são opções estruturais que a língua oferece. Não existe isso de forma correta e de forma incorreta, melhor ou pior, certo ou errado. O vocabulário da ciência é muito mais amplo do que o do senso comum.
Conclusão: O professor de Língua Portuguesa deve assumir esse papel transformador que ele tem que é de ensinar a língua como ela é. É pela escola que vamos transformar essa visão de língua da sociedade. As melhores construções gramaticais são da professora Magna Soares.
Análise das estruturas linguísticas, análise sintática ou Estrutura sintática
A função da escola é ensinar aquilo que o aluno não sabe. Não precisa ensinar o aluno dizer: “Nóis pega o peixe, porque ele já sabe. Você não pode substituir aquilo que o aluno já sabe. Você não pode substituir uma parte da cultura que ele tem por outra. Saber dominar a escrita é saber dominar as marcas de oralidade. A gente tem que cobrar o que é do conhecimento ativo e o que é do passivo.
Se o aluno está na sala de aula e pronuncia uma oração que precisa fazer a correção de estrutura lingüística, o professor tem obrigação de fazer isso. Mas se o aluno está na rua, esse não é papel do professor fazer essa correção.
Professora Cleide Oliveira